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VIAJANDO PELA HISTÓRIA

Moinho de Maré no edifício da antiga Capitania do Porto de Aveiro

Este emblemático edifício tem uma longa história, que remonta aos tempos do início da expansão portuguesa. A mais antiga referência feita a um edifício naquele local, é um documento da chancelaria de D. João I datado de 8 de Janeiro de 1406, autorizando o escrivão da câmara do monarca a fazer em Aveiro umas "moendas num esteiro do mar que entra pela parte do dito lugar, acima da dita ponte, que moesse com água do mar". Nessa época remota, Aveiro encontrava-se num período de grande desenvolvimento com a barra da ria natural e franca, facultando a navegação fácil e o fluxo de correntes a penetrar até zonas onde hoje só já há terrenos e águas quase paradas.

Aquelas azenhas passariam mais tarde para a posse do Infante D. Pedro; após a sua derrota e morte na batalha de Alfarrobeira, os seus bens seriam confiscados e entregues a apoiantes de D. Afonso V. As casas e azenhas são doadas ao conde de Odemira. Existe uma carta de doação de D. Afonso V a este nobre, datada de 6 de Julho de 1449. Referem duas azenhas "que Sm no RO que vai per a junto da uilla daveiro que mooem com aagoa do mar que foram do Iffante dom pedro".

O actual Canal do Cojo, vizinho deste edifício, chegou mesmo a ser designado como Ribeira das Azenhas, em face do elevado número daqueles engenhos que se concentraram ao longo das suas margens.
Com a continuação da expansão ultramarina e consequente abandono da agricultura, as azenhas do Cojo perdem valor económico e entram em ruína. Durante algum tempo não se sabe sequer a quem pertenceram. Em 1700 encontravam-se na posse de António de Távora Noronha e Leme, fidalgo da casa de sua Majestade, morador da cidade do Porto. Os seus parentes, anteriores proprietários, haviam permitido que a caldeira se entulhasse, que o telhado da casa da azenha ruísse e ficassem apenas as paredes de pé. O edifício era de um só piso, com as janelas viradas para Oeste, e assentava em arcos por onde passava a água que fazia mover as pás.

Em 1830, José Ferreira Pinto Basto, fundador da Fábrica de Porcelanas da vista Alegre, comprou o ilhote do canal do Cojo, reconstruindo o edifício e reactivando o moinho de marés para servir de apoio à fábrica de porcelanas. Para isso foi necessário desaterrar uma parte do ilhote a fim de formar uma caldeira. As obras do edifício foram entregues a Joaquim José de Oliveira, que manterá as pequenas abobadas formando vãos em arco, onde as rodas activavam as mós colocadas no amplo salão interior do edifício.

Por erro de cálculo nas dimensões da caldeira ou pelo estado de assoreamento em que se encontravam os braços da ria, originado pelo mau estado da barra, o moinho não produziria o resultado esperado e foi abandonado. Nesta época a barra de Aveiro estava completamente assoreada não existindo grande variação entre a preia-mar e a baixa-mar. – a barra chegou mesmo a fechar, levando campos agrícolas a secar, arrasando colheitas, originando pragas de insectos, doenças etc.; o comércio foi prejudicado, por não entrarem navios e Aveiro mergulhou em período de grandes dificuldades.

Sem possibilidade de rentabilizar o engenho, o proprietário tentou ainda aproveitar a caldeira para a construção de uma salina, mas a insignificância da produção e as dificuldades de colocação no mercado acabou por resultar na sua desactivação. O moinho voltou a ser abandonado. Foi Mendes Leite quem, posteriormente comprou toda a zona do ilhote e propriedades anexas a Ferreira Pinto Basto, procedendo ao aterro da caldeira desde a casa dos moinhos até às da viúva de João Justino Gamelas, aproveitando para o efeito o entulho de novas construções. O espaço aterrado ainda foi aproveitado, anos mais tarde, para o cultivo dos mais diversos produtos, inclusivamente de cereais para posterior moagem no moinho.

 

O edifício teve, entretanto, utilização variada. Serviu como depósito de sal. De 1856 a 1858 foi o depósito de chumbo das minas do Braçal e do Palhal, ainda em 1858 foi depósito de carvão e depois daquele ano serviu como armazém para embalagem de laranjas destinadas à exportação para o Reino Unido. Entre 1866 e 1875 esteve ali instalada a composição e tipografia do jornal O Districto de Aveiro, apesar de o jornal ter sido suspenso em Dezembro de 1869. Com o aparecimento em Portugal da industrialização, o edifício foi de novo alterado em 1888, pelo Dr. José Francisco Lourenço de Almada Negreiros que resolve ali instalar uma máquina a vapor com a potência de 80 cavalos, para moer milho e descascar arroz, e que movia dois moinhos que produziam 14 alqueires de milho por hora. A má administração desta pequena unidade industrial acabaria por levar ao seu encerramento.

A consciencialização por parte da classe governativa portuguesa daquela época para a necessidade de investir no ensino público e na criação de quadros técnicos capazes de dar resposta às novas exigências industriais, levou à criação de escolas industriais e de desenho industrial em vários pontos do país, a fim de que a mão de obra nacional pudesse ser rentabilizada neste sector produtivo. Aveiro não foi excepção, pelo que em 1893 foi criada por Decreto a Escola de Desenho Industrial Fernando Caldeira. Em 1896 era proprietário da casa dos arcos o brasileiro João Pedro Soares que aí instalou uma tanoaria. Nesse ano, Francisco Silva Rocha (1864-1957), arquitecto, professor de desenho e director da referida escola industrial, casa com D. Deolinda Augusta Soares, filha do proprietário do edifício. Esta ligação irá permitir-lhe concretizar o velho sonho de construir um edifício para a Escola Industrial. A Escola seria mandada construir pelo Ministro da Cultura António Arroio amigo e admirador de Silva Rocha. Para realojar a escola em habitação condigna, Silva Rocha transformou o velho casarão num belo edifício, aumentando-lhe um piso e dando-lhe um ar apalaçado, sem contudo, destruir os arcos do moinho de maré.
O resultado foi um harmonioso conjunto de características arte-nova. A inauguração fez-se com pompa e circunstância no dia 3 de Novembro de 1903.

Em 1912, por divergências entre o proprietário e a Câmara Municipal, chegou a pôr-se a hipótese de o edifício ser cedido para a agência do Banco de Portugal, e várias outras instituições tentaram adquirir o imóvel. A escola continuaria a funcionar no edifício até 1918, altura em que Silva Rocha foi forçado a vendê-lo face às sucessivas desvalorizações do valor da renda paga pela Câmara. A forte inflação e as dificuldades financeiras geradas pela construção da actual Avenida Dr. Lourenço Peixinho, foram as causas deste desenlace. Naquele ano de 1918 o edifício e o terreno anexo são vendidos a um comerciante, António Alves Videira e no ano seguinte é vendido à Companhia Aveirense de Navegação e Pescas, SARL. Em 1921 esta empresa hipoteca o imóvel, bem como outros bens (navios, etc.); o cancelamento da hipoteca, com pagamento das dívidas à Caixa Geral de Depósitos, libertam o edifício em 16 de Fevereiro de 1922. Em 14 de Agosto de 1925, o comerciante e armador Alfredo Esteves, membro da Comissão Consultiva da Empresa de Navegação e Exploração de Pesca, Lda., compra o imóvel à sua proprietária, então em liquidação. O edifício foi também sede do Clube do Galitos.

Em 1925, como resultado de uma ordem de expropriação (Portaria n.º 301 de 23 de Dezembro de 1923) o imóvel foi vendido pelo comerciante e armador Alfredo Esteves ao Ministério da Marinha, passando desde então a servir e a ser conhecido como o edifício da Capitania do Porto de Aveiro, e também residência do capitão do porto.

 

Em Setembro de 1992, as obras em curso no Porto de Aveiro, que transferem para a zona da Gafanha da Nazaré e Forte da Barra os principais terminais portuários e a sede da Junta Autónoma do Porto de Aveiro, levam a Capitania a transferir também para aquele local as suas instalações, deixando apenas no edifício de Aveiro a residência do capitão do porto. Em 1993 e 1994 esteve instalada no 1º piso do edifício, a título precário, a Associação de Municípios da Ria de Aveiro (AMRIA).

O Diário da República de 30 de Outubro de 1997 publica a classificação do edifício da Capitania como Imóvel de Interesse Público. Em Março do ano seguinte têm início algumas obras de recuperação do edifício, construindo novas fundações através do sistema designado por micro-estacas. Durante as obras foi possível observar no interior as zonas da construção primitiva e as sucessivas alterações introduzidas, nomeadamente as duas portas intercaladas por uma janela em cada uma das fachadas laterais do edifício bem como a lareira onde os trabalhadores aqueciam as suas marmitas, uma vez que, sujeitos aos horários das marés, eram obrigados a longas permanências no moinho. Também foram observadas, junto às janelas da fachada poente (a da Ria), sobre a arcaria, a parte superior das abóbadas de pedra que albergavam os rodízios, cobertas que estiveram, durante décadas, por um piso de enchimento de tijolos e cimento. Eram também visíveis, nesta fase da obra, os orifícios por onde passava o freio que ligava as rodas das mós. Todo o edifício correspondente à primitiva área do moinho apresenta ainda, sob uma placa de material de enchimento, o lajeado em pedra em excelente estado de conservação.

Depois de ter passado por um processo de indefinição quanto à sua possível utilização, o que levou à sua progressiva degradação, foi cedido à Câmara Municipal de Aveiro que encetou as obras de recuperação e adaptação do edifício à instalação da Assembleia Municipal, tendo sido inaugurado recentemente nessas novas funções. Pena que não tenha sido possível preservar e dar a mostrar ao público que a visite, os últimos vestígios da sua função inicial, os quais presume-se que se tenham perdido irremediavelmente com as últimas obras efectuadas.

 
Imagem actual do edifício

(Texto baseado em artigo do CMG Rodrigues Pereira, publicado na Revista da Armada e reproduzido no site "MOINHOS DE PORTUGAL")
Site entretanto desactivado.

 

 







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