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Notícias

FERNANDO ALVES | TSF

O que o mar dá

Na véspera de Natal, os jornais galegos mostraram o antigo casco de um navio naufragado, já em ruína, rompendo o areal de O Rostro, na zona de Fisterra, na Costa da Morte. Não é a primeira vez que a dança das marés escava na praia galega o que resta desse antigo vapor português, o "Silva Gouveia", construído em 1906 num estaleiro inglês. O "Silva Gouveia" pertencia à frota de Alfredo da Silva, da CUF, e transportava açúcar para Inglaterra quando, na véspera de Natal de 1927, um forte temporal o fez naufragar na praia de O Rostro. Não houve vitimas e grande parte da carga foi salva das águas por carroceiros galegos que cobraram cada frete a 10 pesetas.

OUÇA AQUI A CRÓNICA DE FERNANDO ALVES

A Costa da Morte é um mapa de terríveis naufrágios, tantas vezes arpoados em narrativas fabulosas. Em 1890, um navio escola inglês foi arrastado por um fortíssimo temporal e engolido pelas águas perto do cabo Vilán, na zona de Camariñas. Só sobreviveram três tripulantes. Os corpos dos restantes 175 foram devolvidos pelo mar e sepultados junto à praia de Trece, num local ainda hoje chamado Cemitério dos Ingleses. Durante muitos anos, os navios de guerra britânicos que passavam ao largo honravam aqueles mortos com uma salva de tiros. Há ao longo da Costa da Morte muitas cruzes marcando os locais onde tantos percebeiros galegos perderam a vida. E a todo o passo se escutam histórias de saques e de navios atraídos para a morte por luzes enganadoras. Mas há, igualmente, formidáveis histórias de salvamentos e algumas delas persistem na espuma da lenda e em pedra de fé. Muxía é um dos mais apaixonantes lugares da crónica dos naufrágios de toda a costa galega, com o seu santuário da Virgem da Barca, um templo erguido nos rochedos batidos pelo mar. A tradição conta que ali chegou, na sua barca de pedra, a Virgem que visitava o apóstolo Tiago. Os rochedos sobre os quais se ergue o templo seriam os restos dessa barca e teriam propriedades milagrosas. Um deles, a Pedra de Abalar, oscila levemente quando pisado por uma pessoa sem sombra de pecado.

Lembro-me da conversa de André Cunha, então repórter da TSF, com o grande escritor galego Manuel Rivas, numa das praias mais atingidas pelo derrame do Prestige. E lembro-me do naufrágio do Palermo e dos mil acordeões dados à praia, no romance "O Lápis do Carpinteiro". Neste magnífico romance de Rivas, um pintor vai desenhando, com o lápis do carpinteiro, seu companheiro de prisão, a história de Daniel La Barca, o médico republicano e de tantos outros resistentes nesses dias iniciais da Guerra Civil. Há ali perto uma casa onde vivem duas irmãs, a Vida e a Morte, tão inseparáveis. E há o mar de tantos naufrágios. Uma noite, um navio carregado de acordeões naufragou e a tempestade desfez as caixas que embalavam os instrumentos. O próprio mar, na sua dança intempestiva, fez soar os acordeões que, na manhã seguinte, jaziam no areal. Acordeões afogados, absolutamente imprestáveis, excepto um. Um jovem pescador conseguiu retirar dele notas tão encantatórias que Vida, uma das irmãs inseparáveis, se deixou arrebatar pela sua música, assim enfurecendo a Morte, sua irmã, que a procura, vingativa, nas noites de tempestade. A imagem que retenho é, contudo, simplesmente, a de uma maré de acordeões, tal como o reaparecimento do casco em ruínas de um antigo vapor português na praia galega, em vésperas de Natal, adoça o mar salgado destes dias, lágrimas de todos nós.