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Notícias
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A vilegiatura marítima
As Origens
Com o decorrer do século XIX, os habitantes da Europa Ocidental começaram a procurar a praia como local de veraneio. O gosto pelo mar foi ganhando raízes, e entre meados do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX, período que corresponde aproximadamente ao Pré-Romantismo e ao Romantismo, a ida a banhos passou a ser sinónimo de uma prática civilizada entre as elites.
Praia de Brigthon- 1895
A Grã-Bretanha foi o primeiro país a adoptar esta prática. A aristocracia inglesa, que já tinha incutido entre os seus pares a vilegiatura termal, criou uma nova forma de lazer, a vilegiatura marítima, já perfeitamente implantada em finais do século XVIII, e na qual a praia de Brigthon funcionou como centro difusor deste costume.
Na última década do século XVIII, desenvolveram-se centros estivais no litoral da Alemanha, com destaque para Doberan, Travemünde, Colberg e Kiel (no Mar Báltico), e Nordeney, Wyk e Helgoland (no Mar do Norte).
Em França, o veraneio marítimo começou a dar os primeiros passos durante o período da Restauração (1815-1830), destacando-se a estância de Biarritz (que mais tarde seria o local privilegiado de veraneio para a aristocracia francesa, inglesa e castelhana), Dieppe, Boulogne, Royan e Granville.
Praia de Dieppe
Nas costas do Mar Mediterrâneo, a difusão da vilegiatura marítima foi ainda mais tardia. Entre 1830 e 1848, o principal local de veraneio era Sète. As estâncias de Nice e Cannes só se fazem notar na segunda metade de Oitocentos.
Em Portugal essa transição só aconteceu depois da implantação do liberalismo (1820). A burguesia liberal foi a responsável pela introdução de novos padrões de comportamento que a distinguiram dos grupos sociais dominantes do Antigo Regime, e dois quais salientamos o reforço do papel da família na nova ordem social e a valorização do ócio e do lazer. Ao dotar as estâncias balneares do século XIX, de vários espaços sociais, próprios das grandes cidades, a burguesia fez desses locais, até aí considerados inóspitos, centros civilizacionais de extrema importância para os vários estratos sociais que se deslocavam para as praias. Para isso foi fundamental o desenvolvimento dos transportes, em especial do caminho-de-ferro, e o papel da publicidade, que se tornou fundamental para a divulgação das estâncias balneares e das práticas de talassoterapia, impondo os locais da moda entre as elites, e contribuindo deste modo para a assimilação dos seus padrões de comportamento por parte dos outros grupos sociais.
A Praia como sinónimo de “Civilização”
A praia de Espinho, de finas areias e com um relevo marcado por um encadeamento de dunas, era, no primeiro quartel do século XIX, uma pequena povoação habitada por pescadores oriundos do Furadouro que para aí foram trabalhar e que acabaram por se fixar junto à costa, desenvolvendo a tradicional pesca do arrasto ou arte xávega.
A partir de 1830, a burguesia dos concelhos limítrofes começou a utilizar o espaço da praia como local de férias, costume que aos poucos foi transformando a estrutura habitacional da população: aparecimento dos primeiros palheiros de madeira ricamente ornamentados e das primeiras construções em pedra, por contraste com os pobres palheiros dos pescadores, num claro sinal de distinção social. Na segunda metade do século XIX, e nomeadamente com a abertura da linha do caminho de ferro do Norte, a praia ganhou o estatuto de afamada estância balnear. O interesse pela frequência da praia como uma atitude de distinção social e de ostentação do novo poder burguês, alargou-se aos outros estratos sociais. A publicidade começou a mostrar às pessoas que o banho de mar era uma prática civilizacional e, por outro lado, a medicina difundia a ideia da praia terapêutica, como cura para vários males.
Espinho, como uma praia abrangente, e ao contrário de praias mais elitistas, recebia veraneantes das mais variadas origens sociais que se deslocavam de quase todos os distritos do país. A presença de uma alargada colónia balnear espanhola, oriunda principalmente da Estremadura e da cidade de Madrid, dava um toque de cosmopolitismo – a língua de Cervantes ouvia-se em todos os recantos da estância durante os meses de Julho e Agosto. A praia também registava uma forte presença de titulares. Os capitalistas e proprietários, juntamente com os magistrados, tinham um peso significativo no cômputo geral dos turistas portugueses que se deslocavam para Espinho. Os escritores, os músicos e os pintores, que aqui veraneavam, formavam uma elite intelectual muito própria desta praia, animando a intensa vida cultural, especialmente as tertúlias e os concertos que decorriam nos cafés mais concorridos. Os lavradores dirigiam-se para a praia tendo como única finalidade a terapia marítima. Era um grupo que primava por uma presença discreta que se reflectia nos horários dos banhos e na ausência de contactos sociais com os outros grupos. A partir da segunda metade do século XX, o desejo de gozar as férias junto ao mar difundiu-se de forma massiva, abrangendo todos os estratos sociais sem excepção.
A componente lúdica e festiva no quotidiano do veraneante foi, ao longo dos anos, ganhando mais importância. O teatro, a música, o cinema, o jogo e a tourada, assumiram-se como principais manifestações culturais. Na primeira metade do século XX, surgiram novas actividades lúdicas como o concurso “Miss Costa Verde”, e mais tarde o concurso de “Fato de Banho de 1900” e o “Festival Amador do Rei e da Rainha da Canção da Costa Verde”. Na última década do mesmo século, os desportos de praia, e em particular o voleibol de competição, impuseram-se como actividades de lazer no âmbito do turismo balnear.
Em Espinho, a vilegiatura de massas, levou a que a maioria dos veraneantes chegue à praia da parte da manhã e regresse a casa ao final da tarde. O estar na praia limita-se, quase sempre, ao seu espaço natural e aos passeios à beira-mar. O hotel e o café, como antigos espaços de sociabilização, cederem o seu lugar ao restaurante e ao bar de praia. Este último, tende a permanecer para lá do consumo sazonal da praia; é um elemento que permite ao indivíduo desfrutar do ambiente marítimo depois de terminado o Estio.