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JORNAL «A VOZ DA JUSTIÇA», FIGUEIRA DA FOZ, 21.12.1935
Em 1935 o petróleo já era «o sangue do mundo»
A luta para o predomínio dos jazigos petrolíferos nos nossos dias é qualquer coisa de épico e ao mesmo tempo angustioso.
Em 1935 o petróleo é o sangue do mundo. Lá para o ano 2000 é possível que todos os poços se tenham esgotado. O facto não terá então importância, porque a ciência permite desde já encontrar sucedâneos para tudo. Mas de momento, quem possuir mais petróleo e sobretudo quasi todo o petróleo dominará o mundo. Senão vejamos: nos países pobres e não electrificados, como sucede em quasi toda a Ásia, é a iluminação; nos países ricos são os aviões, os automóveis, os camiões, os motores de explosão e a óleos pesados e até a lubrificação das máquinas a vapor. Isto em tempo de paz. Em tempo de guerra são mais os tanks e todas as unidades motorizadas.
Um país privado de petróleo dum momento para o outro ficava pior do que no tempo dos carros de bois, porque os bois e as muares não se criam do pé para a mão.
Isto explica também porque a sanção do petróleo só muito dificilmente será aplicada à Itália.
O petróleo existe sob a crosta terrestre em bolsas ou toalhas, mais ou menos extensas, que outrora se formaram em certas regiões e em certas épocas geológicas pela acção de gases, sobre depósitos carboníferos. Estes gases, em que o hidrogénio representava o principal, actuavam em circunstâncias especiais de pressão e temperatura hoje inexistentes.
No princípio do século passado, o petróleo não servia para nada quando o pai do actual «Rei do Petróleo», Rockefeller, se lembrou de o vender para o tratamento de certas doenças. Não se pode dizer que esta ideia não fosse luminosa, porque menos de meio século depois formava-se a primeira grande companhia americana hoje universalmente conhecida sob o nome de Standard Oil. Ao actual Rockefeller se deve a invenção magistral dos pipe-lines, longas tubagens que, dos poços e através de quilómetros, conduzem o petróleo bruto aos portos de embarque. Actualmente a Standard Oil possui 15.000 quilómetros e tem o seu activo repartido por 13 filiais. O poder desta companhia alia-se ao do Governo americano, donde resulta por vezes, no choque de interesses mundiais, um iminente perigo de guerra. Mas nem sempre assim sucede e a morte misteriosa do Presidente Harding parece indicar que nem sempre os Governos podem contrariar os desejos dos petroleiros.
Enquanto a Standard se ia desenvolvendo na América de Leste, a companhia inglesa Shell Transport concluía um acordo com a companhia holandesa Royal Dutch e formavam o segundo grande grupo mundial. A Royal Dutch Shell é dirigida por um homem da envergadura de John Rockefeller, Henry Deterding, que soube assenhorear-se pouco a pouco dos mais importantes jazigos de petróleo existentes no mundo e por tal forma que, se a Standard Oil produz hoje a maior quantidade, as maiores reservas estão de posse da Royal Dutch.
Um terceiro grande grupo é formado pela Anglo-Persian Oil [futura BP], onde o Governo inglês possui grandes capitais.
O maior porto exportador do mundo é Nova Iorque. Filadélfia possui as mais importantes refinações.
O México tornou-se o segundo país exportador e a guerra civil permanente neste país não atesta senão a luta entre a Standard e a Royal Dutch para a posse dos poços mais ricos. Neste país existem três grandes companhias: a Mexican Petroleum, a Standard Oil e a Mexican Eagle, filial de Deterding.
A rica República da Venezuela, paraíso dos forçados evadidos da Guiana, é chefiada vitaliciamente pelo ditador Gomez, cuja morte os jornais agora noticiaram. Pois este Gomez era um homem de Deterding. Venezuela é petróleo e só petróleo. A Guatemala e Sandino são um capítulo sangrento da Standard Oil.
A guerra do Chaco entre a Bolívia e o Paraguai é a continuação da luta do petróleo mais ao sul.
O assassinato do cônsul americano em Teheran, capital da Pérsia, há anos ocorrido, é uma fase da luta.
O desaparecimento de Rudolfo Diesel de bordo do vapor que o conduzia de Ostende a Dover deve ser imputado à mesma causa.
A Inglaterra não desiste de impedir que a América seja mais poderosa. Os navios movidos ontem a hulha são-no hoje a mazut. A posse recente do Iraque é a continuação da luta que parece, pelas reservas, favorecer o Império Britânico.
O terceiro mercado é o caucasiano, hoje inteiramente nas mãos do Governo soviético. Bakon é o principal centro, Batoum o principal porto.
Em matéria de intrigas secretas, os russos não têm ficado atrás dos outros grupos. A eles e ao seu agente Frank Hennings parece dever-se o célebre incêndio do poço romeno Moreni, que durou dois anos.
O mercado romeno, dos Cárpatos da Transilvânia, é o mais importante da Europa.
Na Ásia a Pérsia é o principal produtor. Os seus jazigos são dos mais ricos. Nas Índias Neerlandesas, Java, Sumatra, Madoura, Timor e Bornéu são os principais núcleos da Royal Dutch, que possui em Batávia e Surabaia grandes refinações.
Mas os mais formidáveis julga-se que são os ora descobertos na Mesopotâmia e conhecidos pelo nome de Iraque. A sua importância parece tão grande que a Inglaterra viu-se forçada a deslocar a sua posição do Mediterrâneo, fazendo de Haifa a sua principal base.
A síntese do petróleo é assunto averiguado. O processo do alemão Bergins permite hoje à I. G. Farbenindustrie fabricar doses enormes para as quais as poderosas companhias petrolíferas, desejosas de assegurar o futuro, concorreram com vastos capitais.
FONTE
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