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Notícias

Mulheres-arrais, as pescadeiras com o dever do mar

Andam no mar desde sempre, ou pelo menos desde há 100 anos, o que é um tempo imemorial. Mas são uma rareza num mundo masculino e ainda parecem gostar de se invisibilizar: são as mulheres que vão com os seus homens de barco e começam a mandar. A NM andou com elas, e com eles, todos são casais, na costa brava do Alto Minho, da Apúlia até Viana e elas contam porque é que não resistem ao mar.

Tem as mãos como as de um homem, Maria José, gretadas nas pontas, palmas calosas, as unhas cortadas rente, dedos densos, talvez sejam um pouco mais pequenas do que as do seu homem, mas são rijas, mãos parrudas.

Ela agarra agora com a direita um pequeno polvo pela cabeça e puxa por ele, ele é elástico, nacarado, está todo esticado, tenta resistir, ela puxa-o para fora da gaiola em que o pescou, são aquelas gaiolas de redes de metal chamadas covos ou nassas e a que eles, os pescadores e pescadeiras, também chamam as mijonas, saca então o polvo, que se opunha, agarra-o agora pelo pescoço, ele a espernear das oito patas tentaculares, e de repente bate com a cabeça do animal numa das traves do barco e ele fica ali derramado a escorregar, todo estonteado.

Não terá perdido totalmente o sentido, o molusco, porque mal se viu pousado lançou disfarçadamente as ventosas para se agarrar e está agora pendurado, flácido e rosado, na parte de baixo da trave - e começa sorrateiramente a caminhar em câmara lenta, a trepar pelo bojo do barco acima, a tentar chegar de novo ao mar.

Maria José já tinha ido para a proa, vê-o, volta, sorri com meia boca, agarra-o de novo pelo gasganete, puxa-o com força até o animal descolar, e dá-lhe nova trombada no pau da nau, depositando-o depois dentro de um balde meio de água onde já estava um congro preto a rabear. E o polvo fica ali, entornado no fundo do balde, espalmado, todo grogue, a ondular. (Mais tarde, já em terra, Maria José exemplificará como se mata um polvo, é simples, diz ela a sacá-lo do balde toda despachada, outra vez a agarrá-lo pela goela, ele revivesce, ondeia das oito patas, é só meter-lhe uma faca entre os olhos, diz ela a enfiar a pontinha da lâmina na cabeça do cefalópode, repare, veja agora, ele vai já mudar as cores, e nisto o polvo esverdeia, acinzenta-se, já não é da cor do nácar, e fica na mão dela inerte, as patas dependuradas, aflautado, como que se desencheu.)

É manhã muito cedo, ainda não são sete horas, estamos no mar, uma milha ao largo da costa de Castelo do Neiva, freguesia do concelho de Viana onde perdura um núcleo piscatório tradicional de 23 barcos de porte pequeno, isto é, com menos de sete metros e tripulação de dois pescadores. São barcos de bicos arrebitados como as cristas dos galos, cauda cortada, com motor, muito garridos, e o barco de Maria José e do marido, José Neto, o Esperança, um barco azul que tem no dorso pintado um branco e grande dragão - o animal tem o corpo e a cauda em S e os olhos e a bocarra estão abertos virados para baixo a ameaçar o mar -, vem a zarpar virado a Norte, eles estão a regressar da pescaria do dia. Para trás deles é Esposende e Ofir, veem-se ao fundo as torres recortadas descomunais, mais para a frente é a praia da Amorosa, depois é o Cabedelo, ali é Regos de Baixo, é um nome dos antigos, dizem eles. O mar tremeluz do sol que já nasceu, e o barco avança contra o vento, a chapar na espuma, a levantar sal. Ao fundo, em frente a eles, bruxuleia uma bruma baixinha, vê-se o casario miúdo na costa, as dunas beges como divãs, montes verdes atrás, é um cenário bucólico de postal.

Como sempre, José Neto vem atrás, na cabina do barco, um olho nas máquinas - GPS, sonda, radioamador, um rádio de pilhas parado em 90.8 FM e a figurinha duma Nossa Senhora branca com as mãos juntas a orar, os santos, para quem pesca e enfrenta a incerteza do mar, são o Windguru do sobrenatural, são sempre uma entidade a consultar -, o outro olho no mar, a manobrar a maneta do motor Yamaha. Maria José vai à frente, pés firmes fincados na proa, não precisa de se agarrar, vai de queixo levantado na bolina, e vista de trás, com o cabelo metido num boné, o colete amarelo subido no cachaço, as grandes calças de alças de pescador, são de borracha, são largas, muito largas e meias cómicas, e vista assim de trás, estatuificada na sua forte compleição, é um pescador como os outros, não se diria que é uma mulher.

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